USF do Jardim dos Ipês recebe nome de Sebastião Analiz Soares, vereador na década de 1980

Foto: Cerimônia de posse dos vereadores eleitos em 1982 por Tangará da Serra. Alemão foi o candidato mais votado. Arquivo familiar.  

O prefeito municipal, Vander Masson, recebeu em seu Gabinete esta semana, familiares do pioneiro Sebastião Analiz Soares, o “Alemão” ou “Alemãozinho”, pioneiro de Tangará da Serra, onde ocupou o cargo de vereador entre o dia 1º de janeiro de 1983 e o dia 31 de dezembro de 1988, na segunda Legislatura da Câmara Municipal.

O chefe do Executivo sancionou a Lei Ordinária número 5.560 de 13 de outubro de 2021, estabelecendo que, a partir desta data, a Unidade de Saúde da Família do Bairro Jardim dos Ipês passa a ser nominada oficialmente USF Sebastião Analiz Soares. O projeto que nomeou a USF foi apresentada na Câmara pelo vereador Hélio José Schwaab (Hélio da Nazaré), sendo aprovada por unanimidade.

Prefeito Vander Masson recebeu familiares de Sebastião Analiz e o vereador Hélio da Nazaré, autor do projeto

Ao receber os familiares de Alemão e o vereador Hélio da Nazaré na Câmara, o prefeito Vander destacou o trabalho e o pioneirismo do ex-parlamentar, que foi determinante para o desenvolvimento de Tangará da Serra ao longo da década de 1980. “É um ato de reconhecimento ao senhor Sebastião, que viveu em Tangará da Serra e deu sua contribuição para nosso município, com seu suor, seu conhecimento, suas virtudes. Precisamos respeitar a memória dessas pessoas, por isso destaco aqui, juntamente com o vereador Hélio, nossa homenagem”, disse o prefeito.

Alemão e Dante de Oliveira (líder do movimento “Diretas Já”) em evento realizado por representantes políticos estaduais em Tangará da Serra. 1984. Arquivo familiar.

Sebastião Analiz Soares foi destaque recentemente em reportagem do jornalista Clairton Weber, na série “Memórias”, do Jornal Diário da Serra. Na publicação, o periódico conta a história de vida do ex-vereador, com destaque para sua trajetória no comércio, no meio rural e na política tangaraense.

Na reportagem, o jornalista conta que Alemão nasceu no dia 3 de maio de 1949, em Goiás, onde cresceu com outros 15 irmãos. Em 1970 casou-se com Hilda de Castro, constituindo sua primeira família. Deste casamento são as suas primeiras três filhas: Aparecida, Edsônia e Sânia Mara.

Família do Alemão: primeira esposa Hilda de Castro juntamente com suas filhas, Aparecida (primeira à esquerda), Edsônia (segunda à direita) e Sânia Mara (primeira à direita). 

Segue trechos da reportagem do Diário da Serra:

Em meados de 1975, quando ouviu as primeiras notícias sobre Tangará da Serra, que estava para ser criado, Alemão, juntamente com sua esposa, seu pai e seu sogro, veio conhecer aquela que seria sua grande oportunidade. As notícias davam conta de que se tratava de uma região com terras muito produtivas e, sobretudo, por ser um lugar que não geava, pois naquela época em Caçu, a geada castigava as lavouras.

Nova morada: nova atividade

Em 8 de maio de 1976, véspera dos festejos relativos à emancipação político-administrativa de Tangará da Serra, Alemão chega de mudança com sua esposa e filhas. Dois meses depois seus pais e a maioria dos irmãos também mudam para Tangará. Essas famílias também enfrentaram a longa jornada. A viagem entre Goiás e Mato Grosso seguia bem até a Capital do Estado, Cuiabá. Depois disso, estrada de chão.

O objetivo inicial era investir em fazenda, continuar trabalhando com a terra, porém na época a maioria das propriedades não tinham documentos e, diante do temor de perder as economias de toda uma vida, Sebastião Analiz Soares decidiu investir numa atividade urbana e inaugurou um armazém de secos e molhados denominado “Casa do Alemão”, que se localizava na Avenida Brasil, em frente ao Hiper Gotardo.

Os pioneiros de Tangará da Serra enfrentaram todas as dificuldades que apareceram com coragem e firmeza de espírito. Com a família de Alemãozinho não foi diferente. Sânia Mara, a terceira filha do primeiro casamento conta que naqueles tempos, os imóveis tanto de moradia como comércio e prestação de serviços, se concentravam no espaço compreendido entre a Escola Estadual 13 de Maio e a praça da antiga Prefeitura Municipal, onde hoje está situada a Caixa Econômica Federal. Ali, inclusive, estava a primeira igreja católica construída no município.

“[…] não havia muitas moradias e as que tinham, eram feitas de madeira com telhados de tábuas. A rede de telefonia ainda não existia, a água era de poço puxado manualmente e a luz era fornecida por um gerador. Foram tempos difíceis”, comentou Sania.

Devido ao racionamento de energia, os produtos comercializados deveriam ser de origem não perecíveis e a isso some-se as dificuldades do trajeto entre Tangará e Cuiabá. Com a rodovia em precárias condições praticamente o ano todo as mercadorias demoravam chegar. Na área da saúde a situação também era muito difícil:

“[…] quando ficávamos doentes, eu e minhas irmãs, nós éramos levadas em uma senhora chamada Dona Lina, conhecida por curar os enfermos através de chás e benzimentos”.

De volta ao campo

Em meados de 1978, Alemão arrendou terras localizadas na antiga estrada do Ararão, onde derrubou mato, cultivou milho e posteriormente formou pasto para pecuária. Com o tempo, Alemão se tornou uma pessoa muito conhecida na cidade, pois além de ser um homem muito animado, “festeiro” e cheio de amigos, participava ativamente nos grupos de casais da Igreja Católica, onde sempre gostou de trabalhar nos preparativos das festas realizadas no salão paroquial. Alemão também participava das “cantorias” nas festas de Folia de Reis. Um dos seus maiores prazeres, segundo testemunha Sânia Mara, era lotar sua caminhonete C10 de pessoas e ir assistir jogos de futebol aos domingos.

Neuza Neto, Karina e Hélio da Nazaré, autor do Decreto que homenageia Alemão na reunião da Câmara Municipal de Tangará da Serra. Em setembro de 2021. Arquivo familiar.

Popular: político

Em 1982, Alemão se candidatou para vereador pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro – PMDB e foi eleito como o candidato mais votado. Seu mandato como vereador ocorreu de 1º de janeiro de 1983 até 31 de dezembro de 1988. Sebastião Soares foi Presidente da Câmara Municipal. A partir de então sua vida se manteve diretamente ligada ao universo político de Tangará da Serra, exercendo atividades que lhe oportunizavam contato direto com as pessoas. Em meados de 1990 trabalhou como administrador do Terminal Rodoviário, posteriormente na Secretaria de Obras e na Assistência Social, onde ficou popularmente conhecido também como “Alemãozinho”.

Seu trabalho na Secretaria de Assistência Social teve um grande destaque, pois participou ativamente da criação do Bairro São Luiz e do Bairro Jardim dos Ipês, tornando-se morador dos Ipês até o seu falecimento. Como morador do bairro desde o início das construções das casas, Alemão, dentro das suas possibilidades, buscava auxiliar os moradores que careciam de transporte urgente para atendimento médico, bem como demais necessidades básicas da comunidade. Sua família sempre conviveu com a rotina de ter a casa cheia de pessoas que o procuravam nem que fosse para um “dedo de prosa”, pois seu jeito simples e atencioso era o reflexo da sua prática de solidariedade inata.

USF recebeu nome em homenagem ao ex-vereador

Em outubro de 1991, divorciado, Alemão se casou com Neuza Neto de Souza, com quem teve mais dois filhos: Roger Maikon de Souza Soares e Karina de Souza Soares. Definir as características do Alemão seria muita presunção, porém, era notório o seu olhar otimista mesmo nas situações mais difíceis e sua capacidade de reunir a família e amigos foram expressões significativas do seu modo de viver a vida.

E, aos 58 anos de idade, na madrugada do dia 03 de agosto de 2007, Alemão sofreu uma cardíaca fulminante e faleceu, deixando na sua família e amigos uma lacuna imensurável. Um homem que amou incondicionalmente suas filhas, seu filho e toda a sua família, sempre procurou mantê-los unidos, independentemente das circunstâncias do cotidiano.

Familiares testemunham que mesmo com todas as dificuldades enfrentadas, ele nunca se arrependeu de ter mudado para Tangará da Serra. Seu encantamento pela região se deu no primeiro momento. Sempre viu esta como uma cidade muito promissora e a sua vontade era de permanecer por toda a sua vida, como assim o fez. E, como era de sua vontade, seus restos mortais se encontram enterrados no Jardim da Paz, em Tangará da Serra/MT. (Diário da Serra. 17/11/2021)

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